Autossabotagem e os ganhos secundários
Para
cada situação negativa que mantemos na nossa vida, existem "ganhos
secundários". São algumas aparentes vantagens que o nosso inconsciente
encontra para nos manter em uma situação de sofrimento. Parece sem lógica, mas
é assim que funciona. Vou explicar melhor o processo.
Atendi
durante um tempo uma mulher que era advogada, funcionária pública concursada,
que estava de licença médica por ter desenvolvido uma depressão. Durante os
atendimentos, entre outras questões, ela relatou grande insatisfação com o
trabalho dela, que desejava encontrar outra coisa, mas não sabia exatamente o
que. Sentia muito medo de deixar a segurança do salário do emprego público.
Pensava inclusive em trabalhar como terapeuta, mas ainda não tinha nenhum
tipo de preparo. Era apenas um desejo por enquanto.
O
estado depressivo foi rapidamente melhorando com o passar das sessões. E foi aí
que surgiu um "problema". Ela sentia que uma parte dela não queria de
forma alguma se curar, para não ter que voltar ao trabalho que a deixava tão
insatisfeita. O medo de voltar era grande. A depressão trazia um ganho
secundário de mantê-la afastada. Tivemos que aprofundar e trabalhar bastante
esse medo para que isso não viesse a sabotar o seu progresso. Eu lembro que ela
chegou a ficar muito bem, mas ainda precisava fazer mais sessões. Acabou não
entrando mais em contato. Não sei depois se ela voltou a trabalhar.
Certa
vez uma médica que foi aluna de um curso meu relatou o seguinte caso. Ela
trabalhava em um posto de saúde e acompanhou um homem que sofria com
turbeculose. Ele passou meses frequentando o posto e seguindo a risca o
tratamento; acabou ficando curado. Depois que se curou, falou que surgiu
uma tristeza e um vazio, por saber que não ia mais ter que ir ao posto de
saúde e ter contato com as pessoas de lá. Ele se sentia cuidado.
Havia
um ganho em se manter doente. Era certamente uma pessoa carente de atenção
familiar. Em alguns casos a doença pode se prolongar por muito tempo, pois
inconscientemente não queremos nos libertar dela por causa dos
"benefícios" que ela nos trazem. É possível então que esse homem
venha a desenvolver alguma outra doença para que possa ser novamente cuidado
por alguém.
Esses
são casos mais extremos de autossabotagem devido a ganhos secundários.
Entretanto, isso não ocorre somente nesses casos mais intensos. Em maior ou
menor grau, toda situação que negativa que não conseguimos nos libertar, nos
traz algum ganho inconsciente. Esses ganhos as vezes podem ser fáceis de
perceber, mas em outros casos podem ser tão estranhos e absurdos que nós não
nos damos conta.
Lembro
em um determinado momento da minha vida que percebi um pensamento muito
sabotador na área profissional. Eu vinha crescendo bastante no trabalho como a
EFT como terapeuta e professor da técnica, me libertando de um período de sete
anos em que tive uma firma de engenharia que me trouxe enormes prejuízos. De
repente me passou um pensamento: "e se eu realmente me livrar totalmente
desses problemas financeiros e crescer a tal ponto de não ter mais que me
preocupar com isso?". O que surgiu foi um sentimento de medo, um vazio,
uma sensação de que eu ia ficar sem objetivo na vida.
Isso
ocorreu por que durante anos da minha o meu maior sofrimento era tentar sair
das dívidas, mas eu ficava cada mais atolado. O meu grande objetivo era acabar
com isso. Minha mente era preenchida com essa "luta". Acabei me
apegando a esse personagem que lutava eternamente e não conseguia nada.
Resolver a questão financeira seria acabar com esse personagem com quem eu
acabei gerando um senso de identificação. Mantê-lo me trazia um aparente ganho:
ter um objetivo, uma vida preenchida, por mais doloroso que fosse.
É
óbvio que eu poderia preencher a minha vida com coisas mais saudáveis. Mas o
processo não é racional. Passa por uma lógica inconsciente que nos leva a uma
grande autossabotagem.
Uma
mulher que se relaciona com um homem que a trai constantemente, ou que bebe
muito e é violento, tem sempre ganhos em se manter nessas situações. E são
vários os possíveis ganhos vamos ver alguns:
-
Ser vista como uma mártir, uma pessoa boa, compreensiva e até espiritualizada;
ganhar atenção e reconhecimento por isso.
-
Manter a identidade da vítima (apego ao personagem) e colocar a culpa do seu
sofrimento no marido e dessa forma não assumir a responsabilidade de mudar.
Assumir a responsabilidade pela própria vida é uma libertação, só traz
benefícios. Só que o processo de transição de sair da vítima e cair na real
pode ser bem doloroso. Além disso, a quem ela vai culpar se por acaso se
separar e ainda assim não conseguir ser feliz?
-
Com sua baixa autoestima (sentimentos de menos valia, não merecimento, devido a
culpas e rejeições que vem acumulando na vida); ela tem desejos
inconscientes de sofrer e se punir e esse relacionamento preenche essa
necessidade
Vemos
então que os ganhos secundários em manter um problema podem ser de diversos
tipos: Receber reconhecimento e atenção; ser cuidado pela família; Tirar
licença do trabalho e até se aposentar antes do tempo; manter um
personagem ao qual estamos muito apegados inconscientemente; preencher a vida
com uma causa; culpar os outros pela própria infelicidade e não ter que
ver a sua parcela de responsabilidade; punir a si mesmo devido a baixa
autoestima; e etc...
E
você? Que situações difíceis você vem mantendo, e quais os possíveis ganhos
inconscientes. Faça a pergunta para si mesmo, mantenha a mente aberta para o
que pode surgir. Talvez você se espante com as respostas. Trazer isso a luz da
consciência é super importante para se libertar.
André Lima
www.eftbr.com.br
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Márcia
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